quarta-feira, 27 de junho de 2012

Os ombros suportam o mundo ...


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco. Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. És todo certeza, já não sabes sofrer. E nada esperas de teus amigos. Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo, prefeririam (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação.

(Carlos Drummond de Andrade)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Orgulho e Vaidade


Orgulho e vaidade aprisionam
Pois toda humildade é esquecida
E "amigos para sempre" nesta vida
O barco d'amizade abandonam

Pensando que desculpas funcionam
Vaidosos deixam aberta uma ferida
A antiga união morre sofrida
E o templo fraternal eles profanam

Não há fraternidade no orgulhoso
Além da teimosia, é vaidoso
Impondo, como sempre, o que bem quer

Aprisionado, morre solitário
Na imaginação é libertário
Algema outra alma se quiser ...

(Gwyn)

Decepção


Decepção nem sempre é aprendizado
Em certos casos, o ensino é aparente
Um coração que hoje é magoado
Será ludibriado novamente

E persistir errando tolamente
Não mudará o que já estava errado
Decepção nem sempre é aprendizado
Em certos casos, o ensino é aparente

O erro já vivido no passado
Não deve repetir-se no presente
Um coração outrora enganado
Merece uma opção inteligente
Decepção nem sempre é aprendizado ...

(Gwyn)

domingo, 17 de junho de 2012

Ternura


Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não trai o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem
sem fatalidade o olhar extático da aurora.

(Vinicius de Moraes)

Alma


O homem não tem um corpo separado da alma. Aquilo que chamamos de corpo é a parte da alma que se distingue pelos seus cinco sentidos.

(William Blake)

domingo, 10 de junho de 2012

Engodo


Um dia a recompensa chegará,
Mas se fores sincero, verdadeiro
Se enfrentares, sim, o mundo inteiro
A paz em tua vida reinará

Se a sinceridade tu negares,
Tu não terás outr'oportunidade
E levarás o engodo à eternidade,
A dor encontrarás noutros lugares.

Assim é que a vida nos ensina,
Levamos deste lado a nossa sina
Sofrendo, como o outro, a traição

Que um dia nós causamos conscientes
Adoecendo, então, as nossas mentes
Matando um grande amor sem emoção ...

(Gwyn)

domingo, 3 de junho de 2012

Poesia Morta


É triste quando morre a poesia,
As rimas, em silêncio, continuam
Os lindos pensamentos só flutuam
Perdemos, simplesmente, a fantasia ...

(Gwyn)