sábado, 19 de janeiro de 2013

Livrai-me ...


Livrai-me de toda mágoa que me impede de sorrir, todas as más intenções que me impedem de seguir. Dos maus pensamentos que tiram a paz, das más palavras que levam ao caos. Dos maus corações. Das más sensações. Tudo o que aqui dentro fizer mal. E que assim eu me faça, livre da falta de fé. Da falta de sonhos. Da falta de paz. Livrai-me de tudo que me prende. De tudo o que ofende a minha liberdade de ser... e de sentir…

(Caio Fernando de Abreu)


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O que está acontecendo, Rafael ?




Pois é, seu Facebook. Está acontecendo tanta coisa por aqui...
Na minha humilde opinião, acho que as pessoas estão se odiando mais, cobrando mais, exibindo mais, falando demais, pensando demais, e agindo de menos. Mas está a melhorar! E por sua causa, acredite! Afinal, acho que estamos todos acreditando, não? 

A intolerância chegou a tal ponto que até as fragrâncias de perfumes, aquelas que eu achava que haviam sido planejadas para serem agradáveis, têm sido alvo de ofensas por aqui, viu? São tantas reclamações gratuitas que fica difícil enumerá-las: pessoas reclamando do clima, dos seus conterrâneos, trânsito, política, futebol, e de quem fala sobre esses assuntos. Acredita que outro dia vi gente reclamando de quem faz aula de tecido? Tecido, aquele circense que eu acho tão bonito. Difícil, viu?

Mas, pelo lado bom, seu Facebook, eu tenho percebido uma diminuição daquelas intolerâncias padrão, sabe? Aquelas que, por motivos mais do que óbvios, são consideradas erradas socialmente, como preconceito por cor, sexo, etnia, religião, e etc. Não digo com isso, é claro, que elas não se façam presentes no dia a dia de todos nós. Mas, pelo menos por aqui não as vejo com a frequência e intensidade de outrora. Será que estamos a evoluir?

Ah, Seu Facebook... Nesses tempos modernos temos sido tão cobrados, sabe? De tantas coisas e pessoas diferentes... Principalmente por aqui. O senhor ficaria assustado de saber. Mas, eu te conto. Somos cobrados a tomar as rédeas da sociedade como um todo. Abraçar o maior número de causas possíveis e impossíveis. O nosso clique hoje em dia está valendo muito, sabe? Com ele, podemos salvar pessoas doentes, evitar desmatamentos, achar pessoas perdidas... Até custear o tratamento de câncer de alguma criancinha de um lugar distante. É sério, Seu Facebook. Você tem nos proporcionado o mundo da benevolência diariamente no seu feed de notícias. É só parar para analisar. 

Se isso funciona mesmo? Ah, Seu Facebook! Não me faça perguntas difíceis esta hora! Sou da geração Google e não sei se as coisas tomam forma de fato. Mas fique tranquilo! Em pouco tempo, alguém postará uma foto, um vídeo, ou um link que possa nos responder. Por enquanto, me sinto bastante confortável na cadeira da minha casa. Salvando vidas, doando dinheiro para campanhas, compartilhando e compartilhando para ajudar. Sou um herói! E devo tudo isso a você, é claro.

Também tenho amado os animais tão intensivamente, Seu Facebook. Ajudo tanto, que às vezes me sinto o próprio Noé: salvando as espécies, viu? Diariamente abraço causas de cachorros, gatos, e todos os outros animais que aparecerem pela minha frente. Clico e leio sobre todas elas, e, é claro, as compartilho o máximo número de vezes possíveis. Afinal, quanto mais gente ficar sabendo, melhor, né? Alguém irá fazer alguma coisa. Eu acho incrível como nós, enquanto animais, tenhamos alcançado essa relação extremamente carinhosa e espirituosa. Somos uma geração e tanto! Deveríamos nos orgulhar.

Orgulhar? Aí eu não sei bem, mas se for com sentido de exibir nossas conquistas nós já nos orgulhamos e nos exibimos muito por aqui. Aliás, chega a tanto que não pode passar despercebido. Se vamos num show, por exemplo, passamos boa parte dele com algum celular que possa postar em tempo real que estamos por lá. Tem gente que, inclusive, assiste ao show pela telinha do telefone, acredita? Pois é! Mas não para por aí: nós nos orgulhamos das viagens que fazemos, dos relacionamentos que temos, das nossas casas, filhos, compras, e até da nossa comida. Sim, diariamente compartilhamos fotos com tudo o que comemos. Se nós compartilhamos a comida? Não, não! Compartilhamos as fotos mesmo. E se nós agradecemos? Bem, Seu Facebook, aí eu já não posso te afirmar...

Sobre a nossa língua eu não posso te dizer muito, Seu Facebook. Por aqui, aparentemente, nós estamos engajados a melhorá-la. Pessoas estão nos bombardeando com novas informações. Há, inclusive, campanhas com fotos ensinando às pessoas as diferenças entre: mas/mais, a gente/agente, e tantas outras questões sobre a nossa gramática complicada... É muita generosidade! O senhor não tem noção.

Como eu te disse no começo dessa conversa, seu Facebook, muita coisa está rolando por aqui. E, infelizmente, eu não posso parar de atuar. Fico devendo um update sobre o como estamos com a política, por exemplo, agora que somos de fato cidadãos. E o nosso ilustre respeito a nação indígena. Os outros tópicos ficam pra outra hora, porque nesse instante, eu pre-ci-so ajudar a cadelinha manca, sem pata, com vermes, que foi achada em algum lugar do interior de um Estado que eu nunca fui. Vou fazer isso virtualmente, é claro, mas se o senhor quiser ajudar, ela atende pelo nome de Nina, e é super dócil...

(Rafael Cunha)