domingo, 14 de julho de 2013

Tênis X Frescobol


O tênis é um jogo feroz, o objetivo dele é derrotar o adversário, e a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário. E é justamente para aí que ela vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza do outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo para que o outro posso pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou nenhum ganha, e ninguém fica feliz quando o outro erra, pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um no frescobol é como uma ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveris ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir. E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado, mas não tem importância, começa-se de novo esse delicioso jogo em que ninguém marca pontos.
A bola são os nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonhos pra lá, sonhos pra cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam a espera do momento certo para a cortada, tênis é assim, recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo como bolha de sabão. O que se busca é ter razão, o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente, o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que ao falar, abre espaço para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem, cresce o amor. Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...

(Rubem Alves)

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